Porque eu me dou o trabalho de continuar viva?
Eu não tenho motivos pra querer viver.
sábado, 13 de outubro de 2018
Saturday Night
Eu não tenho jeitos novos de dizer que eu estou cansada da minha vida, de ser quem eu sou.
Eu queria gritar por ajuda até alguém me salvar...
Mas eu já implorei, por muito tempo, e ninguém pôde fazer nada por mim.
Então eu continuo aqui, me afogando em lembranças ruins, em esperanças fúteis, em baixa auto-estima, em saudades, em sentimentos que eu não sei lidar... Eu tô me afogando. Você consegue ver? Você vai fazer alguma coisa?
Eu queria gritar por ajuda até alguém me salvar...
Mas eu já implorei, por muito tempo, e ninguém pôde fazer nada por mim.
Então eu continuo aqui, me afogando em lembranças ruins, em esperanças fúteis, em baixa auto-estima, em saudades, em sentimentos que eu não sei lidar... Eu tô me afogando. Você consegue ver? Você vai fazer alguma coisa?
quarta-feira, 10 de outubro de 2018
Como eu cheguei nesse ponto
Eu acho que eu só fui feliz de verdade até meus 5 anos.
Quando eu entrei na escola, eu comecei a sofrer bullying, e foi a primeira vez na vida que eu descobri que eu não era bonita. Até meus 17 anos me disseram vezes demais que eu era feia. Diziam isso por trás e pela frente. Uma menina nunca esquece quando alguém diz que ela é feia; me disseram tantas vezes que eu acreditei.
Mas pelo menos eu era uma boa aluna, uma garota inteligente. Então eu entrei no cursinho, depois na faculdade...
Até essa época, eu ainda tinha um pouco de auto estima, porque eu tinha quase certeza que era inteligente. O cursinho e a faculdade me mostraram o contrário: Que na verdade eu nunca soube o suficiente, que eu precisava saber muito mais, que tinha muita gente mais inteligente que eu no mundo, e que eu nunca ia ser nada mais que uma pessoa medíocre. Isso doeu muito, de um jeito que eu não sei explicar. Mas eu aprendi, com muita dificuldade, a aceitar que tudo bem ser medíocre, desde que eu fosse feliz.
- Tentei ser feliz na minha vida amorosa: Eu nunca tive um amor correspondido na vida. Por muito tempo eu achei que era só porque eu não sou bonita. Teve uma fase em que minha auto estima aumentou um pouco, e eu achei que era só porque "não era pra ser, tinha que encontrar a pessoa certa", essas coisas que as comédias românticas fazem a gente acreditar. A verdade é que eu nunca soube o porque. As duas pessoas por quem eu me apaixonei de verdade disseram que só queriam minha amizade, mas hoje em dia não querem nem mais falar comigo (o que eu acho muito estranho, já que foram eles que me magoaram). As últimas duas pessoas por quem eu tive alguma atração ou sentimento mais forte... bom, uma delas disse que "tinha que estar um pouco mais bêbada pra me beijar" e o outro nem respondeu minha mensagem quando eu disse que gostava dele. Lendo essas frases que eu acabei de escrever, me dá vontade de rir, de tão patética que é minha vida.
- Tentei ser feliz na minha vida sexual: Aviso - essa parte é mais patética ainda.
Eu fui virgem até meus 23 anos. Não porque eu tenha me "segurado" nem nada assim, só nunca tinha rolado. Claro que eu achava que era porque ninguém me achava bonita o bastante pra tentar nada comigo. Quando finalmente aconteceu, com um amigo, não foi bom, mas pelo menos foi com uma pessoa legal. Não teve sentimento nenhum, mas ele não forçou a barra, nem nada assim. Mas por algum motivo me incomodou... ele pediu pra tirar a camisinha, e não se esforçou nem um pouco pra me dar prazer, enfim, foi meio merda. Depois disso, eu passei 2 anos sem nem tentar ter outra experiência de novo. A segunda vez foi muito pior: Não era só que era ruim: DOÍA. De verdade. E ele ainda deu em cima da minha melhor amiga (a que apresentou a gente).
Eu sempre superestimei o sexo. Quando passei a conversar com outras amigas e amigos, percebi que sexo é quase uma mentira coletiva: todo mundo diz que quer, todo mundo diz que é incrível, mas poucas pessoas gostam de verdade. Você tem todo o trabalho de se envolver com outra pessoa (o que dá trabalho), de se proteger de doenças, de tentar não engravidar (com hormônios que fodem seu corpo), por uma experiência muito meia boca. Acho que eu desisti, não sei.
- Tentei ser feliz na vida acadêmica: Ok, essa parece ser a parte mais fácil e controlável. Você estuda, você se especializa, e pronto: você trabalha com algo que você goste e é feliz. Mas eu sempre achei difícil achar essa parte da vida muito agradável... Você passa a semana toda fazendo a mesma coisa, implorando pela chegada do final de semana, morrendo de tédio, no final de semana você dorme, e começa tudo de novo. Some a isso uma profissão estressante que nem a medicina, a minha depressão, e basicamente você percebe que não tem como.
- Tentei ser feliz na minha vida espiritual: Eu fui criada como católica, mas confesso que já tem alguns anos que toda essa ideia preconceituosa e tradicional não é compatível com as minhas crenças pessoais. Procurei outras religiões, mas não me encontrei em nenhuma, apesar de achar quase todas muito bonitas. Percebi que acredito num deus que basicamente não interfere na nossa vida, que nos criou, mas que não escolhe quem vai ser feliz, ou triste, nem nada assim. Acredito que a gente volta a vida depois de morrer, quando nossas células passam a fazer parte de uma árvore, de um animal, ou até mesmo como uma estrela, sei lá. Não é muito reconfortante, mas é no que eu acredito. Isso não me deixa mais feliz ou mais triste, é só o que é minha verdade.
Depois que eu perdi meus avós, depois que a Sol morreu na minha frente (pode parecer bobagem, perder um bichinho, mas quando um ser vivo tão inocente morre sofrendo na sua frente, e você não pode fazer nada... Dói demais), depois que eu deixei a casa onde eu cresci, o quintal onde eu brinquei, a minha árvore favorita... Foi difícil voltar a ter paz. Minha cabeça virou um redemoinho de memórias ruins, de saudade, de stress, de falta de esperança...
Há uns 3 anos, veio minha depressão. Eu acho que eu sempre tive um humor mais depressivo, mas depois da faculdade e essas coisas que aconteceram aí em cima, virou uma depressão de verdade. E é horrível. Ela te faz pensar que você nunca mais vai ser feliz, você começa a achar que ninguém gosta de você, te afasta das pessoas, te faz pensar que nada tem saída. Dá vontade de se trancar num quarto e nunca mais sair. Eu comecei a tomar remédios, e eles ajudaram, de verdade. Mas eles não resolvem todos os seus problemas. Eles não apagam as memórias ruins. Eles não fazem você ser bonita.
Depois eu tive um episódio de Síndrome do pânico. Foi honestamente a pior época da minha vida. Eu achava que ia morrer de câncer a qualquer momento. Eu chorava TODOS os dias. Sem exagerar. Eu não conseguia dormir. Eu vivia em constante desespero, com medo de morrer, um medo muito real, o tempo todo. Durou 6 meses.
Depois disso eu tive mais 2 episódios de depressão.
Há alguns meses, apesar dos pesares, eu estava bem. Minha alegria se baseava em comer, ver meus amigos, e minha família. Depois que eu contei pros meus pais que eu sou bissexual (o que eu só tive coragem de fazer depois da morte dos meus avós, porque a ideia de ser rejeitada por eles era assustadora demais) e eles me aceitaram, minha família virou minha maior segurança; eles entendem muito bem minha depressão (tanto meu pai quanto minha mãe já tiveram depressão), me dão força, me levam no médico, me amam muito. Depois que meu sobrinho, o Bernardo, nasceu, minha família virou meu refúgio. O bê é a melhor coisa que já me aconteceu. Ele é cheio de vida, ele está sempre sorrindo... é impossível ficar triste perto dele.
Meus amigos são incríveis. Cada um é uma pessoa tão diferente do resto das pessoas, têm o coração tão bom, são tão carinhosos... Mas não sei, ultimamente parece que eu fui me afastando deles. Alguns por causa de trabalho, falta de tempo, o de sempre. Outros... bom, os meus amigos mais próximos parecem estar me decepcionando tanto com o passar do tempo... Eles pareciam tão sem preconceitos, tão bons... mas parece que quanto mais a gente se aproxima, mais eles se sentem "livres" pra mostrar um lado muito ruim. Eles são tão vingativos, tão mesquinhos, julgam tanto os outros... Eu não consegui me sentir a vontade com eles.
Sobre comer: É muito bom. Mesmo. Mas engorda. Pra mim isso não é um problema tão grande, já que eu basicamente desisti da minha vida amorosa e sexual. Mas pros outros, não é. Eu vejo como minha mãe olha pro meu corpo. Como meus colegas olham pras minhas roupas. E quando outras pessoas reparam no meu corpo, eu não consigo não reparar. E eu me acho horrível. Mas toda vez que eu começo uma dieta, eu tenho vontade de chorar. De verdade. Parece idiota, mas comer é um dos últimos prazeres da minha vida. Até isso perdeu um pouco da alegria... Eu vejo como as pessoas me olham quando eu como. Eu sei que não é saudável. Comer me faz feliz e triste ao mesmo tempo. Me faz sentir culpada.
Ok, na linha do tempo da minha vida merda, chegamos há cerca de 2 semanas atrás. Só minha família e, principalmente, o Bê, me faziam feliz. E eu não acredito que eu vou escrever essa frase, mas foi exatamente o que aconteceu: Chegaram as eleições.
As notícias nos jornais começaram a ficar horríveis. Na minha casa, eu percebi que meu cunhado é a favor do Bolsonaro, e não se contenta em ser: ele quer convencer todo mundo a ser. Ele não pára de falar como o PT é horrível, como pelo menos o Bolsonaro é ficha limpa, que ele não é fascista, que a gente não entende o que é fascismo... e parece ignorar tudo de nojento que esse homem é: homofóbico. Racista. Machista. Xenofóbico. Violento.
A TV mostra ele e as falas cheias de ódio dele o tempo todo, em pleno horário nobre. O facebook também. Ele quase ganhou o primeiro turno. Nos últimos 5 dias os casos de violência aumentaram demais. Muitos casos de agressões, assassinatos, estupros... Uma torcida inteira gritando "Ô bicharada, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado" dentro de um metrô... Hoje uma médica tentou convencer um paciente com transtorno mental a votar no Bolsonaro. Eu saí, e os pacientes do lado de fora estavam falando dele. Entrei no trem pra ir pra casa, e um senhor tava falando que a Globo só tem novelas cheias de depravação, que os artistas que são contra o Bolsonaro são todos bandidos, e que vivem as custas da Lei Rouanet... Meus amigos do facebook apoiando esse homem nojento, porque "PT não dá", "tem que mudar as coisas", "ele vai acabar com a corrupção"...
Minha irmã, que sempre foi minha melhor amiga, disse que vai votar branco. Que não apoia nenhum dos dois. Ela também votou num militar pra senador no primeiro turno, porque ele ia ajudar os policiais. Ela sempre mudou um pouco de opinião de acordo com as opiniões dos namorados dela, mas ultimamente ela tá me assustando.
Meu amigo foi agredido no metrô, um homem cuspiu neles e disse que tem nojo de viado.
Eu tô constantemente com vontade de chorar. Eu não acredito no que o mundo virou, na quantidade de pessoas dispostas a votar num cara que odeia metade da população brasileira. Em quantos amigos, conhecidos, parecem ter o coração cheio de ódio. Na violência. No medo.
Minha irmã diz que eu tô exagerando. Talvez eu esteja. Mas o mundo virou o lugar mais feio e sujo que eu já vi, e só levou alguns dias...
Minha casa deixou de ser um lugar seguro. Tem um cara gritando a favor de uma máquina de ódio o tempo todo aqui dentro. Meu sobrinho... vai ser criado por esse cara e pela minha irmã, cada vez mais estranha e desconhecida pra mim. Essa pessoinha, inocente, risonha... Tem uma chance muita grande de virar um cara homofóbico, machista, quando crescer... De virar igual a esses caras que eu odeio. Eu não quero viver pra ver isso, pra ver minha única alegria da vida virar alguém que eu não suporto.
Faz dias que eu não saio do meu quarto. Eu não paro de dormir. Eu não paro de segurar o choro.
Não parece possível que o futuro seja bom.
Eu não tenho mais motivos pra sorrir.
Quando eu entrei na escola, eu comecei a sofrer bullying, e foi a primeira vez na vida que eu descobri que eu não era bonita. Até meus 17 anos me disseram vezes demais que eu era feia. Diziam isso por trás e pela frente. Uma menina nunca esquece quando alguém diz que ela é feia; me disseram tantas vezes que eu acreditei.
Mas pelo menos eu era uma boa aluna, uma garota inteligente. Então eu entrei no cursinho, depois na faculdade...
Até essa época, eu ainda tinha um pouco de auto estima, porque eu tinha quase certeza que era inteligente. O cursinho e a faculdade me mostraram o contrário: Que na verdade eu nunca soube o suficiente, que eu precisava saber muito mais, que tinha muita gente mais inteligente que eu no mundo, e que eu nunca ia ser nada mais que uma pessoa medíocre. Isso doeu muito, de um jeito que eu não sei explicar. Mas eu aprendi, com muita dificuldade, a aceitar que tudo bem ser medíocre, desde que eu fosse feliz.
- Tentei ser feliz na minha vida amorosa: Eu nunca tive um amor correspondido na vida. Por muito tempo eu achei que era só porque eu não sou bonita. Teve uma fase em que minha auto estima aumentou um pouco, e eu achei que era só porque "não era pra ser, tinha que encontrar a pessoa certa", essas coisas que as comédias românticas fazem a gente acreditar. A verdade é que eu nunca soube o porque. As duas pessoas por quem eu me apaixonei de verdade disseram que só queriam minha amizade, mas hoje em dia não querem nem mais falar comigo (o que eu acho muito estranho, já que foram eles que me magoaram). As últimas duas pessoas por quem eu tive alguma atração ou sentimento mais forte... bom, uma delas disse que "tinha que estar um pouco mais bêbada pra me beijar" e o outro nem respondeu minha mensagem quando eu disse que gostava dele. Lendo essas frases que eu acabei de escrever, me dá vontade de rir, de tão patética que é minha vida.
- Tentei ser feliz na minha vida sexual: Aviso - essa parte é mais patética ainda.
Eu fui virgem até meus 23 anos. Não porque eu tenha me "segurado" nem nada assim, só nunca tinha rolado. Claro que eu achava que era porque ninguém me achava bonita o bastante pra tentar nada comigo. Quando finalmente aconteceu, com um amigo, não foi bom, mas pelo menos foi com uma pessoa legal. Não teve sentimento nenhum, mas ele não forçou a barra, nem nada assim. Mas por algum motivo me incomodou... ele pediu pra tirar a camisinha, e não se esforçou nem um pouco pra me dar prazer, enfim, foi meio merda. Depois disso, eu passei 2 anos sem nem tentar ter outra experiência de novo. A segunda vez foi muito pior: Não era só que era ruim: DOÍA. De verdade. E ele ainda deu em cima da minha melhor amiga (a que apresentou a gente).
Eu sempre superestimei o sexo. Quando passei a conversar com outras amigas e amigos, percebi que sexo é quase uma mentira coletiva: todo mundo diz que quer, todo mundo diz que é incrível, mas poucas pessoas gostam de verdade. Você tem todo o trabalho de se envolver com outra pessoa (o que dá trabalho), de se proteger de doenças, de tentar não engravidar (com hormônios que fodem seu corpo), por uma experiência muito meia boca. Acho que eu desisti, não sei.
- Tentei ser feliz na vida acadêmica: Ok, essa parece ser a parte mais fácil e controlável. Você estuda, você se especializa, e pronto: você trabalha com algo que você goste e é feliz. Mas eu sempre achei difícil achar essa parte da vida muito agradável... Você passa a semana toda fazendo a mesma coisa, implorando pela chegada do final de semana, morrendo de tédio, no final de semana você dorme, e começa tudo de novo. Some a isso uma profissão estressante que nem a medicina, a minha depressão, e basicamente você percebe que não tem como.
- Tentei ser feliz na minha vida espiritual: Eu fui criada como católica, mas confesso que já tem alguns anos que toda essa ideia preconceituosa e tradicional não é compatível com as minhas crenças pessoais. Procurei outras religiões, mas não me encontrei em nenhuma, apesar de achar quase todas muito bonitas. Percebi que acredito num deus que basicamente não interfere na nossa vida, que nos criou, mas que não escolhe quem vai ser feliz, ou triste, nem nada assim. Acredito que a gente volta a vida depois de morrer, quando nossas células passam a fazer parte de uma árvore, de um animal, ou até mesmo como uma estrela, sei lá. Não é muito reconfortante, mas é no que eu acredito. Isso não me deixa mais feliz ou mais triste, é só o que é minha verdade.
Depois que eu perdi meus avós, depois que a Sol morreu na minha frente (pode parecer bobagem, perder um bichinho, mas quando um ser vivo tão inocente morre sofrendo na sua frente, e você não pode fazer nada... Dói demais), depois que eu deixei a casa onde eu cresci, o quintal onde eu brinquei, a minha árvore favorita... Foi difícil voltar a ter paz. Minha cabeça virou um redemoinho de memórias ruins, de saudade, de stress, de falta de esperança...
Há uns 3 anos, veio minha depressão. Eu acho que eu sempre tive um humor mais depressivo, mas depois da faculdade e essas coisas que aconteceram aí em cima, virou uma depressão de verdade. E é horrível. Ela te faz pensar que você nunca mais vai ser feliz, você começa a achar que ninguém gosta de você, te afasta das pessoas, te faz pensar que nada tem saída. Dá vontade de se trancar num quarto e nunca mais sair. Eu comecei a tomar remédios, e eles ajudaram, de verdade. Mas eles não resolvem todos os seus problemas. Eles não apagam as memórias ruins. Eles não fazem você ser bonita.
Depois eu tive um episódio de Síndrome do pânico. Foi honestamente a pior época da minha vida. Eu achava que ia morrer de câncer a qualquer momento. Eu chorava TODOS os dias. Sem exagerar. Eu não conseguia dormir. Eu vivia em constante desespero, com medo de morrer, um medo muito real, o tempo todo. Durou 6 meses.
Depois disso eu tive mais 2 episódios de depressão.
Há alguns meses, apesar dos pesares, eu estava bem. Minha alegria se baseava em comer, ver meus amigos, e minha família. Depois que eu contei pros meus pais que eu sou bissexual (o que eu só tive coragem de fazer depois da morte dos meus avós, porque a ideia de ser rejeitada por eles era assustadora demais) e eles me aceitaram, minha família virou minha maior segurança; eles entendem muito bem minha depressão (tanto meu pai quanto minha mãe já tiveram depressão), me dão força, me levam no médico, me amam muito. Depois que meu sobrinho, o Bernardo, nasceu, minha família virou meu refúgio. O bê é a melhor coisa que já me aconteceu. Ele é cheio de vida, ele está sempre sorrindo... é impossível ficar triste perto dele.
Meus amigos são incríveis. Cada um é uma pessoa tão diferente do resto das pessoas, têm o coração tão bom, são tão carinhosos... Mas não sei, ultimamente parece que eu fui me afastando deles. Alguns por causa de trabalho, falta de tempo, o de sempre. Outros... bom, os meus amigos mais próximos parecem estar me decepcionando tanto com o passar do tempo... Eles pareciam tão sem preconceitos, tão bons... mas parece que quanto mais a gente se aproxima, mais eles se sentem "livres" pra mostrar um lado muito ruim. Eles são tão vingativos, tão mesquinhos, julgam tanto os outros... Eu não consegui me sentir a vontade com eles.
Sobre comer: É muito bom. Mesmo. Mas engorda. Pra mim isso não é um problema tão grande, já que eu basicamente desisti da minha vida amorosa e sexual. Mas pros outros, não é. Eu vejo como minha mãe olha pro meu corpo. Como meus colegas olham pras minhas roupas. E quando outras pessoas reparam no meu corpo, eu não consigo não reparar. E eu me acho horrível. Mas toda vez que eu começo uma dieta, eu tenho vontade de chorar. De verdade. Parece idiota, mas comer é um dos últimos prazeres da minha vida. Até isso perdeu um pouco da alegria... Eu vejo como as pessoas me olham quando eu como. Eu sei que não é saudável. Comer me faz feliz e triste ao mesmo tempo. Me faz sentir culpada.
Ok, na linha do tempo da minha vida merda, chegamos há cerca de 2 semanas atrás. Só minha família e, principalmente, o Bê, me faziam feliz. E eu não acredito que eu vou escrever essa frase, mas foi exatamente o que aconteceu: Chegaram as eleições.
As notícias nos jornais começaram a ficar horríveis. Na minha casa, eu percebi que meu cunhado é a favor do Bolsonaro, e não se contenta em ser: ele quer convencer todo mundo a ser. Ele não pára de falar como o PT é horrível, como pelo menos o Bolsonaro é ficha limpa, que ele não é fascista, que a gente não entende o que é fascismo... e parece ignorar tudo de nojento que esse homem é: homofóbico. Racista. Machista. Xenofóbico. Violento.
A TV mostra ele e as falas cheias de ódio dele o tempo todo, em pleno horário nobre. O facebook também. Ele quase ganhou o primeiro turno. Nos últimos 5 dias os casos de violência aumentaram demais. Muitos casos de agressões, assassinatos, estupros... Uma torcida inteira gritando "Ô bicharada, toma cuidado, o Bolsonaro vai matar viado" dentro de um metrô... Hoje uma médica tentou convencer um paciente com transtorno mental a votar no Bolsonaro. Eu saí, e os pacientes do lado de fora estavam falando dele. Entrei no trem pra ir pra casa, e um senhor tava falando que a Globo só tem novelas cheias de depravação, que os artistas que são contra o Bolsonaro são todos bandidos, e que vivem as custas da Lei Rouanet... Meus amigos do facebook apoiando esse homem nojento, porque "PT não dá", "tem que mudar as coisas", "ele vai acabar com a corrupção"...
Minha irmã, que sempre foi minha melhor amiga, disse que vai votar branco. Que não apoia nenhum dos dois. Ela também votou num militar pra senador no primeiro turno, porque ele ia ajudar os policiais. Ela sempre mudou um pouco de opinião de acordo com as opiniões dos namorados dela, mas ultimamente ela tá me assustando.
Meu amigo foi agredido no metrô, um homem cuspiu neles e disse que tem nojo de viado.
Eu tô constantemente com vontade de chorar. Eu não acredito no que o mundo virou, na quantidade de pessoas dispostas a votar num cara que odeia metade da população brasileira. Em quantos amigos, conhecidos, parecem ter o coração cheio de ódio. Na violência. No medo.
Minha irmã diz que eu tô exagerando. Talvez eu esteja. Mas o mundo virou o lugar mais feio e sujo que eu já vi, e só levou alguns dias...
Minha casa deixou de ser um lugar seguro. Tem um cara gritando a favor de uma máquina de ódio o tempo todo aqui dentro. Meu sobrinho... vai ser criado por esse cara e pela minha irmã, cada vez mais estranha e desconhecida pra mim. Essa pessoinha, inocente, risonha... Tem uma chance muita grande de virar um cara homofóbico, machista, quando crescer... De virar igual a esses caras que eu odeio. Eu não quero viver pra ver isso, pra ver minha única alegria da vida virar alguém que eu não suporto.
Faz dias que eu não saio do meu quarto. Eu não paro de dormir. Eu não paro de segurar o choro.
Não parece possível que o futuro seja bom.
Eu não tenho mais motivos pra sorrir.
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